3 de outubro de 2008

Confessionário



Há muito não vou aos templos com intuito religioso. Tento estar sintonizada com a idéia que tenho de Deus sem intermediários, horários marcados ou socializações fanáticas. Mas foi numa mostra de arquitetura de interiores , onde o antigo casarão abrigava em cada ambiente olhares e sentires de diversos artistas sobre o viver do homem, que capitulei .Uma capela repaginada no pátio da residência me deixou em choque.
No interior a ousadia do roxo e verde limão prenunciava a intenção do autor. Cadeiras "Starck" coloridas no lugar dos bancos tradicionais conferiam um ar sofisticado e ao mesmo tempo irreverente.Anjos estilizados com feições nada angelicais presos por cabos de aço substituíam as imagens santas. Do teclado eletrônico saiam acordes contemporâneos de clássicos do rock : Deep Purple, Queen , Iron Maiden , Jethro Tull.Tudo isso me encantava e me reportava à velha e silenciosa rebeldia. Rebeldia religiosa com a qual contrariei uma família italiana incansável na proteção dos seus credos e na realização dos seus sonhos : " - Não saberemos o quê dizer aos amigos, Cris ! ", quando não casei na igreja católica, como aguardado, nem batizei meu filho, como esperado . Optamos por dar-lhe liberdade de escolha.Um curioso argumento : cada vez que meu bebê chorava alguma tia vaticinava : - É a falta do sal!!!
Voltando à capela , a grande sacada, na minha opinião, foram os confessionários : duas estruturas em alumínio ,uma em cada lado da entrada principal, com formato anatomicamente perfeito para o ajoelhamento. Elas inquietavam. No lugar do padre , um grande espelho. Ele seria o mediador e provocaria o diálogo com o deus interior de cada um.
Fiquei alí muito tempo, advinhando a intenção do arquiteto .Pensei na clareza da mensagem e no enfrentamento que o espelho propiciava. Pensei na minha infância,quando me confessava. Quando constrangida e não raro com muito medo , eu fabricava pecados na tentativa de convencer aquele homem das minhas culpas e da sua ( dele ) importância. Eu e mais dezenas de crianças da minha vila italiana justificávamos a existência de Deus.

Até mais, pessoal, bom fim de semana.Com eleições . Tomara que chova muito. Pelo menos o ar ficará mais limpo.

Parabéns poeta, pelo niver.

Votem bem e não façam como um amigo cara- de -pau que diz que irá votar no vencedor e que na segunda- feira bem cedo estará abraçando o próprio.Seja ele quem for. Cada figura!...

beijões.

21 comentários:

Edu e Mau disse...

Gente! Dessa igreja aí eu gostei! É de verdade ou inventada?? Beijo!

Anônimo disse...

Cris. Muito interessante a "visão" de quem projetou(é assim que se fala? rs) essa capela. Fez uma revisão dos "dogmas" da religião, nesse caso, parece-me, a Católica(não conheço outras que usam os "confessionários").
Também me sinto confusa por haver sido criada na fé dessa Igreja e só guardar dela as sensações penosas...Eu quase desmaiava de fome, por causa do jejum, para receber a comunhão, que minha mãe nos impunha...E havia a confissão também.Levei uma bronca uma vez de um padre, porque ousei dizer que eu não tinha pecados. Depois disso, passei(como vc e tantos outros) a inventar alguns...
Casei-me na Igreja, mas, não criei meus filhos nela. Hoje, tenho minha "religião" pessoal(mesmo quando dizem que isso é "papo-furado"...rs).
Vou votar no domingo. Mas, não estou assim, exatamente feliz, por isso, desta vez...rs
Beijos e beijos.
Dora

Cris disse...

Meu Delícia:

Inventada, Dú, claro. E real.

Beijús.

Cris disse...

Dora ...

Certinho o projetou. E lá você erra? rsrs. Tenho algumas boas lembranças da igreja, Dora, por exemplo,aos domingos, depois da missa ( devidamente obrigada a ir )tinha matinê!!!! Esperava a "missa" com ansiedade.
Não me sinto em crise ou confusa por ter sido criada nessa fé . Quase não me lembro dela , a não ser pelos noticiários .
Estou felicíssima por domingo.O barulho vai acabar.A sujeira também. Não, a sujeira não.

Beijão, linda.

Jonice disse...

A parte do espelho é genial!
Aqui em Curitiba ganhamos uma deliciosa sala de música a partir de uma capela reformada. Ficou linda!

Beijos :)

Cris disse...

Joquita...

Tanta vontade de estar aí, não imagina .

beijo e viva nóis!!!rsrsr

Jacinta Dantas disse...

Oi Cris,
que texto bom de ler, mulher. Consigo visualizar o que o seu olhar vai me mostrando. Bom demais essa sensação. Penso que essa "irreverência" (se é que posso dizer assim)do artista arquiteto pode nos levar à revisão de tantas coisas(posicionamentos, valores...) em nível pessoal e coletivo. O espelho, para mim, diz muito.
Fui educada na Igreja Católica e guardo boas recordações da minha meninice. Depois, aos 12 anos, comecei a cantar no coral da matriz e amava aquele espaço. Esse era o meu jeito de participar. Com o advento das Comunidades Eclesiais de Base, aprendi-fazendo-vivendo e construindo um novo jeito de ser Igreja. E essa formação trago comigo. Hoje, com 44 anos, canto, na celebração da missa, uma vez por mês e gosto da congregação que a mim proporciona.
Ai meu Deus! esse comentário ficou enorme...
Beijos

Aninha Pontes disse...

Cris querida, se a igreja fez sucesso eu não sei, mas que eu adorei, isto sem dúvida nenhuma.
Fiquei pensando no espelho no lugar do confessionário. Que idéia genial!
Que bom seria se todos nós conseguíssemos olhar assim para dentro de nós, encontrar esse Deus, que todos temos, e com ele dialogar, e fazer disso parâmetros para nossa caminhada.
Sempre fui católica, assim como você a Dora, passei por tudo isso.
Catecismo, confissão, invenção de pecados, para poder cumprir um ritual, primeira comunhão e todos os demasi sacramentos.
Casei, batizei meus filhos, e até os levei até a primeira eucaristia.
Daí prá cá, cada um seguiu seu caminho.
Hoje minha filha é evangélica, nós não.
Aqui não se dicute religião, todos respeitam a religião alheia.
Isto foi uma imposição minha à minha filha, que como todo evangélico, gosta de tentar evangelizar.
Não frequento maia a igreja, embora, as vezes entro lá, e tenho bons momentos de reflexão, de introspecção, de olhar no meu espelho.
É assim que me sinto feliz, e tenho em todos os momentos a companhia de meu Deus.
Desculpe querida, me alonguei demais.
Um beijo com todo meu carinho e que vc tenha um lindo final de semana.

Cris disse...

Ery,

Como é gostoso esse bate papo aquí, não sei se andas reparando.E você não pode ficar fora dele, jamais. Te gosto muito, meu amigo.

O abraço é verdadeiro.O "cheirosa" fica por conta da tua sensibilidade.

Beijão .

Cris disse...

Jacinta:

Que delícia de comentário, isso sim. Respeito e admiro pessoas que, como você, gostam verdadeiramente de comparecer à igreja e até participam - nossa, cantora! (sou uma pretensa, mas só de karaokês rsrsr ).

Beijo, garota. Obrigadíssima pela presença.

Cris disse...

Aninha-meu-bem , minha linda:

Bem verdade que não existe a melhor religião e sim a que nos deixa feliz, não é?

Tô adorando esses bate papos, viu?

Beijo, linda.

Anônimo disse...

".... é a fé que vc deposita em vc e só... "
bom fds!
Helô

Cris disse...

Nossa, minha gafanhota preferida. Que segurança!

Vote direitinho...

R. M é!!!!!

Paula Calixto disse...

Amei a capela descrita!!! Eu sempre digo: Deus não precisa de prisões, já os homens...

Sempre O tive em mim, perto, presente. Mas há muito não O vinculo a impertinência religiosa. Não O Deus que conheço, Amo e me entrego! Ele não precisa de prisões, como já mencionei.

Votar é um saco! Necessário, mas... Um saco!!! Coisa de humano, mesmo!

Lindona, estive ausente por motivos expostos lá no Maçã. Mas,mas tudo se encaixa - entra nos eixos. Amém.

Beijos.

dade amorim disse...

Cris, essa capela deve ser mais uma das tentativas que a igreja católica vem fazendo pra manter ou conquistar fiéis, cada vez mais esparsos e menos fiéis :)
Religião, infância e adolescência se misturam na cabeça da gente, que foi criada em famílias religiosas e depois foi se desiludindo de tudo que nos enfiaram pela goela a baixo. Aconteceu comigo também. Mas na adolescência tive uma experiência muito bacana em um grupo de orientação dominicana que militava em política de estudantes - e muitas vezes lutou junto com a galera do PC, porque em certos momentos queríamos exatamente as mesmas coisas. Esse grupo sofreu a mesma repressão e teve perdas e refugiados. Perdi muitos amigos assim, e principalmente aprendi que as pessoas não se dividem em bons e maus, e que cada um tem em si o potencial para o bem e para o mal assim lado a lado, pau a pau. Às vezes você acredita muito em alguém que te trai, decepciona e deixa na mão. Mas há gente que fica firme, mesmo na pior situação. Acabei chegando à conclusão de que a grande diferença é o amor, é ser capaz de amar ou não, capaz de se colocar no lugar do outro, perceber o que se passa com o outro. Não há doutrinas salvadoras, nem verdades que justifiquem prejudicar os outros em nome de deus ou de seja quem for. E se Deus existe, ele deve ser exatamente essa pessoa capaz do amor total. E ponto. Rituais, sacramentos, dogmas e tudo que nos ensinaram são apenas recursos de uma instituição interessada em manter seu "rebanho", os dízimos, o prestígio político e o poder que já cometeu os maiores desatinos.
Cacilda, acho que me empolguei.
Beijins e uma semana muito boa pra você.

Cris disse...

Paulinha...

Não imagina como gostei da tua presença aquí. Há muito não nos "víamos ". Já te visitei e me interei. Estou aquí, se vc precisar. As vezes um amigo pode ajudar a carregar o peso do sofrimento do outro , especialmente quando o assunto é doença.

beijão, minha linda.

Cris disse...

Oi Adelaide..

Tua empolgação enriquece esse espaço. Olha, concordo absolutamente com quase tudo contigo . Mas, eu fiquei tão encantada com a criatividade do arquiteto que uma possível artimanha da igreja nem me passou pela cabeça. Ela ( a possível artimanha ) ficou menor frente ao talento, sabe como ?

beijão, querida. Ótima semana pra vc também.

Anônimo disse...

oieeeeeeee...

Ir a uma igreja não está vinculado apenas ao ato dela nos intermediar à Deus. É uma oportunidade de comungar com os amigos e irmãos canticos, alegrias (tristezas), preces.

Eu votei, não por obrigação. Mas para promover e propagar a democracia, a cidadania. Minha filha de 4 anos apertou os botões. Mesmo que ela não entenda o contexto expliquei pra ela a importância do fato.

abraços

Janaina Amado disse...

De blog em blog, caí aqui nesta casa (Igreja? He he. Gostei. Achei confortável -- mas não demais, pitada de pimenta ardida também --, interessante, instigante. Voltarei.

Cris disse...

Muito bem, Masini, o querido.

Ih! Tem tempo para você ensinar essas coisas pra lindinha, lindo.

beijo e concordo também contigo em relação às igrejas. mas tem que sentir. Como você.

beijo de novo

Cris disse...

Janaina:

Amei tua visita.Que bom que venho atraindo o pessoal das escritas. Adoro e aprendo.

Beijão e fica por aquí.