16 de setembro de 2008

Só .



Muitos juram de pés descalços e juntos que nunca sentiram(ão) solidão,seja pela quantidade de amigos e parentes que conseguem cultivar e manter em seu redor , seja pelo argumento fashion da ótima companhia que - graças aos santos psicólogos - são para sí mesmos .

Concordo com a segunda alternativa , sou fashion . Sinceramente? Concordava . Acostumada a abrir picadas na mata nunca dantes desbravada , sobretudo aquela mata densa e escura cá dentro do peito , tento absorver um outro argumento para o sentimento de solidão através do texto de um jornalista americano, Thomas Wolfe , trazendo uma explicação menos óbvia , mais genuína, menos generalista . Ele sintetiza a verdadeira solidão não como a ausência dos outros em nossa vida , tão pouco discute a qualidade da nossa própria companhia , e sim da sensação mais profunda , mais trágica, quase impossível de remediar . Ele fala da carência de comunicação entre os semelhantes, da verdadeira tradução dos nossos ( inconfessáveis ) sentimentos e dos nossos significados ,para a qual nos faltam palavras para falar, escrever ou gritar, restando a superficialidade dos gestos ensaiados ,das expressões ditadas pelas convenções ou aprendidas com a literatura .

Porrada. Nossos tormentos pelas incompreensões , medos e inquietações temos mesmo que suportar sozinhos e na mais absoluta solidão,sem chance de compartilhar com aqueles a quem mais amamos ou confiamos. O principal motivo seria a nossa almejada liberdade individual no sentir, tão complexa que não conseguimos nem mesmo verbalizar o seu conteúdo. Não sem algum sofrimento, temos alguma vaga e as vezes equivocada intuição sobre a sua origem , então, como pretendemos compreensão de um sentimento que temos, se nem sabemos o que é , nem bem sabemos definir como se manifesta?

A pior das solidões é a nossa necessidade de compreendermos os outros e nos fazermos compreendidos por eles.Pronto.E ponto. Da mesma forma como alguns dizem que não conseguem sentir solidão, outros, por consciência, sabem que em algum momento da vida essa comunicação com o outro acontece sem precisar fazer uso das palavras. O amor - e não a paixão - promove um desses momentos.
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Cazuza já desconfiava dessa verdade em “ Eu queria ter uma bomba”.

.... Solidão a dois de dia
Faz calor, depois faz frio
Você diz "já foi" e eu concordo contigo
Você sai de perto eu penso em homicídio
Mas no fundo eu nem ligo
Você sempre volta com as mesmas notícias
Eu queria ter uma bomba
Um flit paralisante qualquer
Pra poder te negar
Bem no último instante
Meu mundo que você não vê
Meu sonho que você não crê...


Ótima semana , galera.Vou visitar meu amigo amanhã, finalmente. Depois eu conto.

Beijus em latim pra vocês!

53 comentários:

dade amorim disse...

Cris, teu post está melhor do que você imagina. Thomas acertou em cheio, e a moda de fazer companhia a si mesmo pode ter algum sentido, contanto que a gente perceba a solidão elementar de que você fala e que não tem remédio mesmo. Vou fazer uma chamada pra ele no Umbigo, viu?
Muchos besos, frô.

silvioafonso disse...

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Parece que eu vejo você pintada para a guerra. Saiote em tiras de couro e uma outra colorida, com uma pena na testa. Subir ao último andar do prédio de nossas vidas e bradar o grito dos desesperados. Eu entendo porque tenho tido, ultimamente, a mesma vontade, só que tem me faltado a tinta e a tira de pena colorido para tanto.

http://prosaeverso.nafoto.net







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Cris disse...

Adelaide...

Teu elogio é um super incentivo , viu? Fui no umbigo e fiquei olhando pra ele... amei! rsrsrsr

beijão.

Cris disse...

rsrsrsr poeta.. adorei essa . Não foge muito da verdade, agora que você falou e pensando bem. Mas o alvo dessa guerra certamente você não acertou.

beijo, gato palhaço.

silvioafonso disse...

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Ah, este meu jeito de achar as coisas antes de quem as sente...






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jorginho da hora disse...

Olha aí, Cris, esse tema é mais complicado do que se imagina. As pessoas têm até vergonha de adimitir que estão se sentindo assim, simplismente porque só conseguem entender a solidão no sentido do vazio puramente fisico. O buraco é mais em baixo.

Um abraço!

Anônimo disse...

Cris. Li seu texto e imediatamente me veio um "insight" total da nossa trágica incomunicabilidade humana.
Percebo em você uma face extrovertida, até moleca, às vezes, enquanto vislumbro um travo amargo, bem diluído, no seu jeito de ser.
E penso que, infelizmente, pessoas especiais, cultas e inteligentes, como você é,pagam um preço. Nem sempre encontram parcerias à altura, no jogo da vida.
E, concordo plenamente, quando você acena com uma única saída: o amor do outro. Eu falo do sentimento genuíno, aquele que não necessita da verbalização de nossos profundos anseios, aquele que nos transforma em vasos-comunicantes, que nos alimenta e que nos torna livres: esse amor, de mão dupla, esse amor de que falo é a cura de nossa solidão.
Eu desejo que esse amor exista para você!!!!!!!
Cris:
Dei-lhe meu recado.
Empresto-lhe meu ombro.
Dôo-lhe meu tempo.
Faço-lhe meu afago.
Dora

Cris disse...

metido que só ele, né, poeta? Geralmente voce quase acerta fora do alvo.

Cris disse...

E é desse buraco que estamos falando, Jorgito . O mais embaixo, aquele que nos atinge mesmo quando não sentamos nun formigueiro...rsrsr

beijão, querido.

Cris disse...

Dora...

Fechei os olhos
E sentí teu recado
Aceitei teu ombro
Tomei teu tempo
E devolvo o afago.


Beijo, querida.

Esquadros disse...

Não me deixe só eu tenho medo...do escuro...do inseguro...Amei a verdade de seu post, amiga T+

Aninha Pontes disse...

Cris meu bem, e não tenha dúvidas, de que essa solidão, solidão sem estar sózinho, é a mais dolorida.
A solidão escolhida, o querer estar só, é uma opção passageira, creia.
Nada se compara à dor imposta por situações e momentos que queremos afastá-los.
Tomara você tenha todos os dias, um peito em que possa encostar, e não precise de palavras, para se sentir acompanhada e feliz, dando uma bela banana à solidão.
Um beijo.

silvioafonso disse...

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Eu poderia ter atirado num alvo tão grande quanto a minha vaidade, mas não quis. Eu poderia ter contratado um atirador de elite, mas achei que não devia, porque eu não temo as vaias, aliás, elas são o meio mais verdadeiro de manifestação. O aplauso instiga a mesmice.
Prefiro errar amando a ser hipócrita escondendo um sentimento que de tão puro, constrói para a eternidade.
Eu amo sim, amo a minha profissão, os meus parentes e amigos e a quem se atreve a dizer que gosta de mim.

silvioafonso




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Jonice disse...

Amei o que você escreveu hoje, Kika.
Henrique me falou que você ligou, cheguei tarde no relógio. Embora cedo no coração porque algumas fagulhas da solidão andam rondando por aqui.

Boa visita, querida. Beijo a ele.

Beijos

Edu disse...

Gente, esse time de comentaristas seu é muita areia pro meu caminhãozinho! O que posso dizer depois deles? Somente que você brilhou neste postzinho e que acertou em cheio na mosca que todos temos! E tome diálogo pra tentar minimizar essa solidão.

Yvonne disse...

Cris querida, estou em um computador que não é o meu que foi formatado e eu perdi tudo. Por favor, não deixa de fazer comentários no meu blog porque eu quero linkar você. Só faço esse tipo de coisa em casa. Não me abandona, tá? É um pedido meio cara de pau, mas tenho medo de perder o nome do seu blog. Beijocas

o refúgio disse...

"o pior das solidões é a nossa necessidade de compreendermos os outros e nos fazermos compreendidos por eles". Perfeito!
Adorei o texto, Menina.
Beijos.

Cris disse...

Oi, Esquadros...

Fiquei dentro do esquadro e no prumo quando escancarei meu ainda tolo coração , linda...

Cris disse...

Oi, Aninha...

Você, como pensava, precisava fazer parte do time . tuas palavras me alicerçam, garota.

Bj

Cris disse...

Boa decisão, poeta. Proteger o grande alvo da tua vaidade .

Cris disse...

Oi, Joquita...

As fagulhas sempre existirão, linda, o que não dá pra ser é um caldeirão em chamas . Esse , só se for de amor ( essa minha doçura ainda fará diabetes em alguém ).

Bj

Cris disse...

ora, ora , Dú...

Se for muita areia é só dar algumas viagens , lindo ( velhinha, né? ).Não me abandone nunca, por favor.Pra vc posso dizer isso sem medo da solidão.

Cris disse...

Ynonne...

já fui te responder lá no computador que não é teu...rsrsr . Repito: Sou louca de deixar de ficar com quem gosto e sou correspondida?

Bj

Cris disse...

Sandra...

Senão dá pra evitar o estupro da verdade, una-se à ela. Ponto e vírgula, lindinha .

beijão

Renata Silva disse...

Ah, eu já senti a solidão...

Aninha Pontes disse...

Cris querida, eu adorei o link.
Alicerce é forte heim?
Você é delicada, e eu estou adorando vir aqui te ver.
Um beijo

silvioafonso disse...

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Eu preciso levantar cedo para aqui chegar primeiro e riscar na casca desta árvore um coração e dentro, o nome dela.

http://prosaeverso.nafoto.net









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Antonio Brito disse...

Está todo mundo na minha pequeníssima blogosfera de alguma forma passando por uma crise de solidão, por n motivos.

Gostei muito de teu comentário no meu blog, do teu post e dos comentários (das "crises") do pessoal que te acompanha. Para ti, esta solidão é circunstancial e ao mesmo tempo, repleta de companhia!

Um abraço forte, boa semana!

Anônimo disse...

Lindinha RÊ:

E que não? Faz parte da nossa mobília, linda.

Bj

Anônimo disse...

Aninha...

A recíproca é super verdadeira.Bem vida, querida.

Anônimo disse...

Que tipo de ferramenta usarás, poeta? um lápis n.2 bem apontado, fino e elegante, que deixa a letra bonita , como num caderno de caligrafia, mas que a primeira chuva apagará o nome riscado?

Cris disse...

Antonio...

Apaguei quatro inícios de comentários que faria pra você , até desistir.Fiquei de repente sem saber o que dizer , ou o que eu tinha a dizer ficou pequenininho.

beijo, querido, bom resto de semana também.

Anônimo disse...

E eu vivo dizendo constantemente que preciso entender a solidão. Talvez jamais a entenda porque desde que me conheço (e olha que nem faz tanto tempo assim) fico feliz ao sentir a casa vazia e preenchida apenas de mim. Mas me sinto muito mais feliz quando ouço passos pela casa e sei que alguém voltou pra mim e a solidão passa a ser apenas uma ocasião. Abraços meus

Roy Frenkiel disse...

Espero que tudo esteja se acertando.

Mais do que te entendo.

Bjx

RF

silvioafonso disse...

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Ah, essa chuva miúda que eu enfrentava com o peito aberto. Ah, esta chuva que não passa, que vence as minhas forças e deixa comigo o frio, o cansaço.
Ah, esta chuva molhada, que escorre nos meus cabelos, percorre o meu corpo e vaza nos meus passos. Chuva que prende em casa. Chuva que atiça a gula, que acende o fogo e obriga dormir. Chuva miúda, fria enjoada, embrulhou o futuro amarrado com laço.

silvioafonso






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Anônimo disse...

É sempre uma felicidade pra mim, encontrar palavras que me toquem, me inspirem (palavra de ordem!) e me ensinem, como as que encontrei aqui.
abraço!

Yvonne disse...

Oi querida, vou linkar você hoje.
Beijocas

Cris disse...

Ela já deve ter passado, poeta.

Cris disse...

Ery...

Uma alegria muito grande tomou conta de mim quando lí você. Porque é pra isso mesmo que estamos aquí: para encontrar. Encontrar amigos, amor, felicidade, experiência. Que bom que nosso encontro resulta, na maioria das vezes.

beijão e, já sabe, é só "emailar"

Bj

Cris disse...

bia...

Estás linkada. Em tempo recorde.

Bj

Cris disse...

Ynonne...

Gratíssima , cara mia. Você já estava aquí, sabia? Gostou?

beijão, querida.

Marcelo F. Carvalho disse...

Cris, concordo com a Adelaide, teu post está comovido e reflexivo na medida. Thomas e Cazuza (aliás, eu adoro essa música) desconfiaram antes de nós.
Abraço forte!

silvioafonso disse...

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Passou, sim. Passou, mas não engomou. O que adianta um café sem adoçante, mesmo sabendo que o açúcar também adoça? Mas quanto a chuva, ela passou mesmo, como você previu. Agora eu vou à luta. Uns lutam contra alguns, mas eu luto contra todos. Mesmo que um ou outro queira passar para o meu lado, eu dispenso. Eu quero errar, se for o caso, sozinho, mas os louros da chegada eu os quero na minha cabeça. Eu disse, agora a pouco, que quando a vida dela ouvir o tiro da largada, a minha romperá a fita de chegada.

silvioafonso







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Anônimo disse...

Oi, Marcelo ,

Ainda bem que podemos trocar essas impressões todas, ficar solidários na solidão própria que é a de todos. Eu amo Cazuza,professor .

Aquele poeta ...

Beijão.

Anônimo disse...

Poeta lindo gato e palhaço:

O açucar também adoça mas engorda, é bom evitar. Por minha vez não sei se luto contra todos, mas certamente a favor de mim.

Beijo da tia

Anônimo disse...

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Engraçado. Carne de Peixe e água não engordam, mas não falaram para as baleias.
Açúcar engorda, mas as formigas e os beija-flores não souberam disso.
O que não engorda, também não emagrece, cara minha. E viva o elefante, que só come folhas e não trepa pra comer.

silvioafonso








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Aninha Pontes disse...

Bom final de semana, com descanso e só coisas boas.
Alegria!
Beijos meu bem.

Cris disse...

Viva o mundo animal, poeta gato...

Ainda chegamos lá.

Cris disse...

Aninha, minha lindinha...

Pra você também. Com muito amor , com muito namoro.

beijão.

silvioafonso disse...

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Eu não sou pretensioso a este ponto. Não quero confundir os gansos ou chamá-los de albatroz. Eu não vou chutar o sapo por sua vaidade se ele não abaixar a cabeça quando falar comigo ou das focas tomar o peixe do jantar. Ah, esqueça de mim, pelo menos um instante. Deixe-me lembrar dos ares da montanha, da paisagem vista da Rua Portugal e dos políticos gastando muito para ganhar tão pouco.

silvioafonso








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Cris disse...

Poeta: É tarde demais, garoto. Prometo me esforçar.

Anônimo disse...

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Eu gosto que me enrosco de procurar pela saída e cada vez mais me ver perdido no emaranhado escuro dessa mata. Gosto de temer o estrangulamento por uma serpente venenosa ou no frio de uma noite congelante em que eu passo, acordado, pensando nela, ter os músculos atrofiados, gangrenado pela hipotermia.
Eu gosto de ter medo. Mas medo, medo. Medo do bicho-papão, da Cuca e de perder você. Perder, não por uns dias, uma semana, por um mês que fosse. Mas perdê-la de mim para o sempre, o eternamente. Aí o medo materializa, abduz e eu desapareço para surgir, quem sabe, da saudade nos sonhos dela.

silvioafonso









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Cris disse...

A mata é escura sim, mas há clarões nela, para alguns. O medo de perder prende. Adorei o gosto que me enrosco.